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O sagrado na arquitectura tem vindo a sofrer um processo de secularização, consequente do prestígio da ciência e da visão científica que hoje temos do mundo, onde a religião desbota-se, perdendo a influência sobre as variadas condições da vida social.
Influenciado pela razão, pelo estado laico, pela perda de fiés e práticas inerentes, pela “autonomia do profano”, pela “mundanização das igrejas”, pela perda da hegemonia religiosa ao longo dos tempos, pela Morte de Deus, pelo busão de higgs, pelo sumiço do prestígio das organizações religiosas, pelo declínio do papismo, pela influência da igreja na sociedade ou na cultura, ou ainda, pela desvalorização das crenças e seus valores intrínsecos, o processo de secularização das sociedades modernas demonstra-se realçado, com o aparente declínio da religião nos estados ditos desenvolvidos.
No entanto, o espaço sagrado não se extinguiu ou desvaneceu, demonstrando-se em actuar com um sentido camaleónico, com enorme interesse para os arquitectos e suas investigações inerentes, sejam relativamente ao desenho do espaço e suas transformações ao longo dos séculos, sejam pela materialidade, ou sejam pela manipulação da luz.
O espaço sagrado manifesta-se, não muito distante, de uma forma que pretende ganhar contornos metafísicos, em prol da sociedade moderna e secularizada, revelando-se num território distinto de actuação de projecto, com o prolongamento do espaço público para dentro destes espaços, com experiências sobre o lugar da transcendência, da veneração, da reflexão, da contemplação, procurando alcançar o intangível na congregação da liturgia. Ao demarcarem-se, as obras destes espaços de transcendência, revestem-se de uma materialidade e de uma forma “espacial” que buscam ainda assim, atingir o impalpável, focando a arquitectura na sua qualidade essencial realçando a dramatização da mesma de modo a criar a comoção desejada.
A concepção deste tipo de espaço inefável na contemporaneidade, recorre então à teatralização de elementos como: a cor, a luz, a sombra, a reverberação, a axialidade, a magnitude, o vazio – que enfatizam o espaço do sagrado, recorrendo a uma estética depurada na contemporaneidade, projectada com laicismo, manipulando o espaço do transcendente, ainda assim com sentido e significado, direccionando o êxtase do momento para a imagem que o crente pretende contemplar.
No sagrado, a arquitectura harmoniza o subjectivo, o que não pode ser explicado ou entendido por outros, intensificando a clivagem entre o ser e o divino, entre o mundano e Deus, mas em igual proporção, é o mediador para a aproximação entre as duas entidades.
Mas a arquitectura ao transmitir essa ideia trancendente, procura, em alguns dos casos, ser abstracta, anulando qualquer determinada linguística que nos possa ser mais familiar, na busca de um rumo fenomenológico do espaço onde se insere, afirmando-se como uma universalidade intrínseca o tema do sagrado.
Dicotomicamente encerrado, o tema reveste-se ainda de ambivalência, dando significância ao espaço no confinamento do Homem com o incorpóreo. A pretensão dupla, em ser correlado com a autoria do projectista e a magnitude do seu projecto, ora pela sua relação espacial, material ou luz, quando em simultâneo, querendo afirmar-se como albergador para a prática do colectivo sendo espaço público, com a constatação rarefeita de fiéis em ambientes cada vez mais secularizados.
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