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O presente artigo, pretende identificar as decisões que encaminham para a formalização da obra de “reabilitação”, cuja premissa neste caso específico, é a demolição de todo o interior de um edifício, de forma a poder dotá-lo de novas necessidades, através da inserção de um novo programa, travestindo as novas funções com a manutenção da fachada, – Fachadismo -, com o objetivo no ensaio em propor medidas que se oponham à demolição do interior dos edifícios.
O estudo incide maioritariamente na Av. da Liberdade e zona envolvente, entre os anos de 1985 e 2003, mas também o caso de Álvaro Siza Vieira é abordado para a reconstrução do Chiado em 1988, assim como o caso de Eduardo Suto de Moura para a proposta para a Praça das Flores.
As circunstâncias que envolvem o fenómeno da retenção epidérmica, é identificado como sintomático, e que provém da cultura subjacente, relativa ao desinteresse do Movimento Moderno na Europa, em não reter a memória dos edifícios, aquando a reconstrução das cidades afetadas após a II Grande Guerra.
O axioma Moderno seria de conceber espaços funcionais, salubres e esteticamente apelativos, mas cuja ideologia é deteriorada, no período Pós-moderno, período este, que é intensificado ainda mais exacerbada, o uso da serialização da indústria e consequentemente mão de obra industrializada, conjugando com o retorno aos historicismos, e que viria a materializar, com mais enfase, a necessidade de recurso à retenção da fachada no final do Séc. XX.
A problemática do Fachadismo, é o seu recurso para acoplar novos edifícios, com uma nova linguagem arquitetónica, com novas funções e novas volumetrias até, mantendo a fachada, quando pelo interior, estes são profundamente alterados.
Contudo, existe a inevitabilidade da operação de retenção de fachada acontecer, dado ao abandono total dos edifícios, resultando num elevado grau de destruição irreversível, cujos mesmos não seriam possíveis de serem recuperados, mas somente a fachada, o que invoca uma necessidade, pela preservação referências históricas e símbolos na metrópole.
Agregada à ideia de Fachadismo, o conceito de Parasitismo está igualmente em sintonia, cuja investigação levou a revelar, um conceito secular, que faria parte das relações humanas intrínsecas da época Grega e Romana, refletindo-se em diversas Comédias Gregas e mais tarde em Comédias Romanas, com a introdução de um personagem arquétipo – o parasita – refletido na relação entre patrono e escravo/parasita na época.
O parasitismo ao ser analisado através de diversos autores da parasitologia do âmbito da biologia, pretende-se que coagule na analogia, da materialização entre a construção antiga e a nova, e adaptação desta última ao hospedeiro (a fachada preservada), sem a destruir na íntegra, sendo que esse conceito secular é trazido para a contemporaneidade, onde perniciosamente, o parasita está envolto na ideia de fachada, na ideia de teatro, na ideia de subserviência, e bajulação, arriscando a cidade a tornar-se ela própria num teatro, , mas igualmente como aconteceria na antiguidade, o parasita revelar-se-á não apenas como uma entidade subserviente, mas claramente como um elemento de troca de benefícios.
A metáfora para a relação entre um organismo dentro de outro organismo diferente, é com o intuito de se alimentar e habitar sobre o seu hospedeiro, absorvendo benefícios económicos, sociais, mas também pela localização do “habitat” do hospedeiro, tornando-se propício pelas vantagens da preservação da fachada e a sua ligação à história da cidade e consequente aumento de valor comercial do parasita.
Sob esta conjugação de conceitos, será o Fachadismo abominação – resultante de uma conjuntura arquitetónica parasitária – ou uma forma de preservar os resquícios de uma arquitetura qualificada do passado?
Este tipo de operação de retenção de fachada em Lisboa, foi desencadeada nos meados dos anos 80 e início dos anos 90, do Séc. XX, operando diretamente com o espaço público, mantendo referências na cidade, onde por detrás de fachadas inalteradas, as funcionalidades de variados programas vão criando mutações, consoante o dinamismo económico e social da cidade.
O edifício Héron Castilho, de 1985, o Teatro Éden, de 1990, e o Antigo Cinema Condes, de 2003, fazem parte do trinómio de edifícios paradigmáticos deste tipo de operação, que adotaram serviços de hotelaria, de restauração, ou do sector terciário complementando com habitação – e que influenciaram parasitismos variados ao longo da Av. da Liberdade, com semelhante atitude e em aumentos de Cércias.
Excecionalmente é abordado os casos de estudos, da fachada preservada pelo Arq. Álvaro Siza Vieira para a reconstrução do Chiado em 1988, e a dificuldade do Arq. Eduardo Souto de Moura em gerar consenso, em propor dinamizar o desenho da cidade na Praça das Flores, sem recorrer a uma relação parasitária.
Nos casos incipientes da operação de Fachadismo de 1985 a 1990, a sua utilização é massificada e radical, ao contrário que na proposta de Siza Vieira poder-se-á afirmar que é também uma espécie de Fachadismo, visto que a fachada Pombalina é restaurada, mas todo o conceito Pombalino é subvertido com a introdução de materiais contemporâneos como o aço e o betão para a estrutura de interiores que foram consumidos pelo fogo, e onde a outrora estrutura em cruzeta pombalina é obliterada, face às novas necessidades de segurança estrutural.
O caso de Souto Mouro que tem vindo a ser contestado pelos cidadãos, é paradoxal na medida que a propensão para o uso de uma relação parasitária ganha consistência com a opinião pública, de forma a manter a traça e ambiente daquela Praça, numa inequívoca inclinação para o uso do Fachadismo.
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